Por Ana Eufrázio
Ontem
foi publicado um vídeo no You Tube dando apoio a Fran. O vídeo, num tom
irônico, é um convite a fazermos uma reflexão sobre a maneira que agimos na
nossa intimidade e as cobranças que fazemos aos outros. Esse é justamente o ponto de inflexão entre a
hombridade e à hipocrisia. Exigir dos outros um comportamento que na sua
intimidade você não tem é no mínimo hipocrisia. Assista o video.
Lamentavelmente,
a nossa sociedade está recheada de hipócritas e muitos deles se ocuparam em
difamar a Fran, criticá-la e compartilhar o vídeo íntimo da moça. São pessoas
que tem um universo de coisas pra fazer, mas que preferem ocupar-se do
comportamento alheio.
Os
sujeitos que criticam a Fran, são os mesmos que criticam os homossexuais, o
casamento gay e adoção de crianças pelo casal, as saias curtas, as mulheres que
são “rodadas”...
Mas
afinal, o que eu tenho a ver com a vida dos outros? Vale salientar que eu mal
pago as minhas contas. Então não me importa quem adota quem, quem dorme com
quem, se fulano faz sexo oral, anal ou se não faz sexo.
Porque
tanta hipocrisia?
E àquela
história de que “Entre quatro paredes vale tudo”?
E àquela
conversa de que “A mulher ideal é santa na sociedade e puta na cama”?
E os
que faremos com os anos de luta das feministas pela liberação sexual feminina?
É inaceitável
que depois de tanto embate entre feministas e machistas, depois de tanta
discussão sobre liberdade, privacidade e respeito, uma minoria (prefiro
acreditar que é minoria) ainda submeta à execração pública mulheres que se predispõem
a vivenciar sua sexualidade livremente.
Felizmente,
me surpreendem comentários sobre o caso Fran. Fico surpresa porque acreditava
que esse tipo de pensamento, machista, sexista, preconceituoso e hipócrita, fosse
tão ultrapassado que as pessoas tivessem vergonha de revelá-los.
“O que o cara fez foi
errado, nem precisa comentar, mas ela também pediu, né? Aí circula na internet
um apoio a Fran, dizendo que ela faz o que todas fazem, só se isso se refere ao
sexo, né, porque piranha nem todas são, em trair o MARIDO. O cara é um FDP, mas
ela tbm é vadia (pelo fato de trair).” J.
Bonilla ·
“perfeito. ele é
canalha mas ela é puta, andava com três, com cara casado sabia de tudo e fez e
aconteceu., que cada um dos dois pague seu preço”. H. Metall.
“ORA BOLAS,QUEM TERIA
QUE TOMAR AS DORES ERA O CHIFRUDO MARIDO DELA.ELA,UMA VAGABUNDA,DEPOIS DE FAZER
TUDO AQUILO QUE ELA FEZ NÃO TEM DIREITO MORAL NENHUM.E O QUE QUE O GUAMPUDO
FEZ?” Celso Pilar.
Nenhuma
dessas pessoas, teve o cuidado de buscar informações antes de julgar e condenar
Fran, boa parte delas se sentiram no direito serem ainda mais cruéis por
suporem que era casada quando na verdade o rapaz é que era casado. Entretanto,
neste caso, nada importa além da execração pública de uma pessoa, o resto é acessório.
Quando
qualquer mulher tem sua intimidade violada, e em razão disso é execrada, todas as
mulheres se obrigam a se retraírem e passarem a desconfiar dos seus parceiros, está,
então, instalada a cultura do medo, do vale tudo e do salve-se quem puder.
Mas em
meio a tudo isso, e ao bombardeio de críticas, sempre há pessoas com o mínimo de
bom senso e que acreditam que o respeito à privacidade e individualidade é inviolável
e inquestionável.
“Ela fez oq? Deu a b....
p o cara e filmou? Qual o problema nisso? O cara não tinha o direito de
espalhar isso por aí. Nem se tivesse filmado, nem se tivesse sido contado
boca-a-boca. Vergonhoso saber que faço parte de uma sociedade onde vc tbm está
u.u.” Bruna Yokota.
“O cara que postou o
vídeo tá certo então? Vamos deixar o cara de lado já que ela fez tudo sozinha!
Dói ver mulheres pensando assim... Quanta hipocrisia! O cara que cometeu o
crime, é ele que corre o risco de ir parar na cadeia. A garota deve estar
deprimida e sofrendo as consequências de acreditar em um babaca, mas nada
justifica julgar a pobre menina.” Raissa Moraes.
“O f... é que nem o
babaca viadi... do caral... mostrou a cara no video pq sabia que ia sujar pro
lado dele... E o engraçado de tudo é que a atenção ta voltada pra garota, que
em partes foi vitima dessa filhadaputice toda. Realmente, ela não deveria ter
deixado filmar, mas isso poderia ter acontecido até com a câmera escondida.
Esse povinho hipócrita deveria apenas colocar a mão na consciência, ao invés de
ficar julgando os outros... O que aconteceu com ela poderia ter acontecido com
qualquer um. Todo mundo aqui trepa, tem seus desejos, fetiches, tenho certeza
de que santo e recatado vcs nem chegam perto. E ser enclausurado por causa
disso, por causa de uma tão banal, fazer do que se é natural uma tempestade, é
a pior das escolhas. Isso só é uma prova viva de que não devemos confiar nem no
prato que comemos, não da pra ficar dando corda nem pra marido, namorado (a),
amigo (a) ou seja lá quem for. Agora parem de se horrorizar tanto e que se
fod...” Glaucia Moraes.
Apesar
dos danos causados à Fran, sua exposição serviu pra suscitar o debate sobre os
crimes cibernéticos.
“A polêmica também levantou o debate sobre a necessidade de tornar mais
rígidas as leis de crimes cibernéticos. Vice-presidente da Comissão de Direito
Digital da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO), o advogado
Rafael Maciel defende a criação de uma delegacia especializada na investigação
de crimes cometidos em ambiente digital. No ano passado, após fotos íntimas da
atriz Carolina Dieckmann vazarem na internet, uma lei foi criada no país com o
nome da artista. Mas o especialista explica que a lei não protege casos em que
não há invasão de computadores. Para o advogado, a legislação não acompanhou as
mudanças da sociedade.” 180 graus.
Apesar
de não haver lei pra criminalizar esse tipo de atitude em meio virtual, o rapaz
cometeu o crime caracterizado como difamação, com base na lei Maria da Penha, porque
de acordo com a delegada Ana Elisa, existiu uma relação de afeto entre vítima e
autor.
Portanto,
me preocupa uma sociedade que não questiona a violação à privacidade, não
repudia pessoas que desrespeitam os códigos de confiança entre parceiros, ou que
não pune a conduta de indivíduos que submetem a mulher a situações, tão ou mais,
humilhantes e degradantes do que a exposição sofrida por Fran.
Quando
a sociedade assimila a cultura machista às perdas sofridas vitimam homens e
mulheres, pois perpetra a crueldade, a intolerância, o desrespeito e a estupidez.
Obs: Os comentários acima, inclusive com os perfis dos autores, podem ser acessados em 180graus, na postagem:
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