Por Ana Eufrázio
Laudo
aponta que a jovem Aline Moreira, 18 anos, encontrada morta último dia 1º,
sofreu violência sexual. A polícia investigava seu desaparecimento desde o dia 27
de setembro, após pegar carona com o namorado da mãe. Seu corpo foi encontrado
nu e em estado de decomposição a 40 quilômetros de Rio Negro, região
metropolitana de Curitiba (PR). Aline teria
pego uma carona, com a namorado de sua mãe, para ir de Mafra (SC) à capital
paranaense e desde então não tinha mais sido vista.
Aline Moreira - fonte: Uol. |
O
namorado da mãe de Aline, José Ademir Radol, principal suspeito do crime e que estava
foragido, foi preso na casa de uma irmã que vive na cidade Santa Cecília,
cidade às margens da BR-116, que liga Curitiba a Porto Alegre, e que também
passa por Rio Negro e Mafra. Ainda na mesma noite da prisão ele teria se
suicidado por enforcamento. A corda usada no enforcamento (conhecida
popularmente por Tereza) foi produzida com lençóis da própria cela, a polícia
investiga também esse caso.
A
mãe da vítima revelou que conheceu José
Ademir em uma rede social com o nome de "Márcio Melo". No
entanto a polícia descobriu que a
identidade que ele usava era falsa e que o suspeito já teria tentado atacar
outra mulher em Santa Catarina.
Em
depoimento, a mãe de Aline contou que a moça pegou carona com José Ademir para
visitar o namorado, que mora em Curitiba. Eles saíram de Mafra no final da tarde
de sexta-feira. Poucas horas depois ela recebeu uma mensagem de Aline, pelo
telefone celular, pedindo socorro. A mãe de Aline também contou que José Ademir chegou a entrar em contato com ela, mas
que não disse onde estava e afirmou apenas ter deixado a jovem na Rodovia do
Xisto, região metropolitana de Curitiba, depois que o carro apresentou
problemas mecânicos.
A
conclusão sobre a morte da adolescente está em laudo de necropsia elaborado
pelo IML (Instituto Médico Legal) do Paraná. O delegado que cuida do caso,
Sérgio Alves, informou ao UOL que "Ela morreu por traumatismo cranio-encefálico,
causado por instrumento pontiagudo, provavelmente uma chave de roda, e sofreu
violência sexual, confirmada pela presença de sêmen na cavidade vaginal" e
que "não há nenhuma dúvida" de que o autor do crime tenha sido o
mecânico José Ademir Radol, 48. Suas suspeitas estão baseadas nas contradições
no depoimento do acusado, "Ele disse que deixou a moça às 18h [da
sexta-feira, 27 de setembro, dia em que ela desapareceu após pegar carona com o
mecânico para Curitiba] na Rodovia do Xisto [em Araucária, próximo a Curitiba].
Mas, às 21h do mesmo dia, duas testemunhas conversaram com ele e a moça [Aline]
no local do crime, a 40 metros do local onde encontramos o corpo dela. E a
chave do carro, que ele disse que tinha perdido, foi encontrada sob o corpo".
Não é
concebível que continuemos ainda assistindo esse tipo de barbaridade. Não há
como encontrar qualquer conforto numa morte trágica como essa. Aline não foi
morta ao acaso, ela não foi vítima de uma tragédia inevitável. Ela foi vítima
da impunidade, da cultura do estupro, da cultura machista, da tolerância da
sociedade com os agressores sexuais.
O
Estado colaborou com a morte de Aline quando não faz valer a Lei Maria da Penha
em outros casos. O Estado é cúmplice de Ademir quando permite que maníacos
sigam às soltas cometendo crimes seriadamente. A sociedade é cúmplice desse
crime quando ignora os apelos da mulher por igualdade de direitos. A sociedade
colabora com estuprador quando culpabiliza a vítima pela agressão.
Até
quando vamos ser tolerantes com esse tipo de crime? Até quando vamos assistir
passivas ao massacre que nos vitima pela simples razão de sermos mulheres?
Até
quando vamos dar pouco caso aos assassinatos que nos acontecem diariamente, são
em média 15 todos os dias?
Aline
morreu apenas por ser mulher, o assassino que a vitimou o fez por motivo fútil,
torpe e injustificável. Aline foi assassinada pra que Ademir pudesse gozar.
Aline morreu pra satisfazer um desejo sexual. Aline foi morta pra que o
assassino sentisse algo por volta de 15 minutos de prazer e alguns segundos de
orgasmo.
Quanto
valeu a morte desta jovem? APENAS ALGUNS SEGUNDOS DE PRAZER.
Mas sobremaneira,
Aline foi morta por conta da cultura da coisificação da mulher e de sua
resignificação a mero objeto de prazer.
Aline
representou apenas um meio pra que seu carrasco gozasse. Era naco de carne que
saciaria o desejo masculino.
A
cultura machista é a cultura que mata, que viola, que mutila e que destrói.
Enquanto
uma Aline sequer ainda for morta, violada, agredida ou oprimida essa continuará
sendo a sociedade do homem e insegura pra nós mulheres.
Não
podemos aceitar a morte e/ou violência por questões de gênero.
É urgente
o banimento da cultura da tolerância, do estupro e de coisificação da mulher. E
por fim, é preciso que a Lei Maria da Penha seja realmente aplicada e que os
agressores sejam punidos.
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