Por Ana Eufrázio
Negligência fez com que ela abandonasse o programa
Lobo da Estrada, após 32 anos no ar...
A apresentadora, considerada a rainha dos
caminhoneiros, teve o rosto desfigurado durante cirurgia plástica, realizada em
um hospital no Nordeste do país, em abril. O procedimento, previsto
pra durar poucas horas, se estendeu por 12. Edileuza conta que percebeu que
havia algo errado com a cirurgia logo que sentiu o efeito da anestesia passar. Ela
sentia dores terríveis que só passavam com morfina.
Além das dores e da paralisia facial lhe restaram
cicatrizes por toda face. Edileuza conta que optou pela cirurgia porque o
médico afirmou que ela estaria “muito feia, muito acabada e muito envelhecida”
e que após a cirurgia “ficaria muito bonita. Ficaria linda e rejuvenesceria
pelo menos 10 anos”.
Em casa, hoje, Edileuza trava uma batalha para
tentar amenizar a dor e o sofrimento, evidentes nas cicatrizes do rosto. Fotos
feitas logo depois da cirurgia mostram o estado em que face da apresentadora
ficou. Ela revela que pagou R$ 20 mil pela cirurgia, mas que já gastou R$ 30
mil para reverter o quadro. Por questões éticas ela não diz o nome do médico
nem o hospital no qual ficou internada, mas afirma que já está tomando
providências judiciais.
A apresentadora da Rede TV e Stop TV, Edileuza Fabrini,
deixou a televisão para se recuperar da cirurgia plástica mal sucedida. Após
ficar 32 anos no ar, à frente do programa Lobo da Estrada, exibido no Paraná,
Mato Grosso, Santa Catarina e São Paulo e também em algumas cidades da Argentina
e do Paraguai, a exibição do programa chegou ao fim.
Além de apresentar o programa Edileuza era também responsável
pela Caravana Lobo da Estrada que fazia shows no Brasil e em outros países da
fronteira. Por causa dos problemas de saúde, precisou cancelar a agenda de
compromissos. Em seu ultimo programa,
aos se despedir dos espectadores, mostrou-se emocionada depois de contar a
batalha que vem enfrentando. No entanto, ela optou por não mencionar o nome do
médico que lhe atendeu. E acrescenta que pretende voltar a realizar o trabalho
que acredita ser a razão de sua vida e que talvez sem ele não tenha como
continuar vivendo, “O meu sonho é voltar, se eu num voltar gente, eu não sei se
vou resistir muito tempo. Se eu num voltar a trabalhar eu não sei quanto tempo
eu vou aguentar...é muita tristeza”, palavras da apresentadora. (Veja o vídeo aqui)
Professora
Ana Maria Amaral declarou, “Fiquei realmente emocionada com esse caso. Os
padrões de beleza que nos são impostos pela mídia faz com que arrisquemos a
nossa saúde ao invés de mudarmos um paradigma social. Mesmo que toda idade
tenha a sua beleza, só conseguimos reconhecer o valor da juventude. A mídia é feroz
inimiga. Minha mãe passou por duas cirurgias plásticas com a finalidade
puramente estética e ainda assim teve pequeníssimas imperfeições, que embora não
atrapalhasse sua vida, elas estavam lá. Fora o caso da perícia médica que está
em jogo. Era o sujeito realmente apto? Ou um ser humano que cometeu um erro
passível de ocorrer com qualquer cirurgião? Enfim, fiquei muito reflexiva”.
Estamos
assistindo uma escalada assustadora no número de cirurgias plásticas, a maioria
estética. Não estamos respeitando as nossas particularidades, idade e
limitações. Estamos querendo reverter o tempo ou dobra-lo. A mercantilização da
beleza atingiu seu ápice. Estão à venda o corpo perfeito, a face desejada, o
cabelo da moda, a bunda, o peito, o nariz...
Como bem coloca Assis
Ribeiro em “O padrão estético da mulher na mídia”,
“O
modelo ideal de beleza atual, incentivado pelos meios de comunicação de massa,
é extremamente limitador: para ser bonita é necessário ser jovem, extremamente
magra, alta e com traços europeizados (pele, cabelos e olhos claros, cabelos
lisos). Basta andar na rua para perceber que é raríssimo alguém ter todas essas
características – e praticamente impossível tê-las ao mesmo tempo. Trata-se de
um modelo que ignora a diversidade racial e cultural brasileira. É absurdo que,
para ficar em um exemplo, cabelos escuros e crespos sejam vistos como
inadequados e necessitem ser clareados e alisados para se enquadrar em um ideal
de beleza que nega a história das brasileiras. Porém, é esse ideal de beleza
altamente excludente e alienante que é tratado como único modelo a ser seguido
se as mulheres quiserem obter respeito social e profissional.”
A ditadura
da beleza é mais um mecanismo de opressão da mulher e principalmente da mulher
pobre. Como braço motriz da indústria da beleza, o culto ao “belo” serve como
mecanismo de impulso ao consumo desenfreado, seja de produtos de beleza, de serviços
ou de medicamentos que prometem milagres. Mesmo que seja o milagre de amenizar
o sofrimento de quem não consegue se enquadrar nos padrões impostos por esses
apelos.
Mas vale
uma reflexão; como determinar o que é belo se a beleza é um adjetivo
completamente subjetivo? Cada idade, cada etnia, cada biótipo, cada pessoa, não
teria a sua beleza? Com que finalidade se ousa determinar um padrão universal?
Naturalmente,
a mulher, como mercadoria que se tornou, é a principal vítima desse protótipo estético
inatingível. E esse padrão deve ser inatingível mesmo, porque somente sob essa
condição é possível vender mais. A mulher enquanto objeto sexual feminino tenta
cada vez mais se adequar a esse modelo com a finalidade de agrada-lo. Já assistimos
à moda da mulher violão, andrógena, da magreza excessivamente magra e estamos
entrando na era da mulher fruta, de corpo altamente definido e musculoso. O interessante
de se notar é que esse arquétipo vai mudando com o decorrer do tempo. E fazendo
uma analogia, a busca pelo corpo perfeito e pela juventude eterna se assemelha
a procura dos personagens de Caverna do Dragão pelo portal que os leva de volta
pra casa, pois sempre que ambos estão bem perto de alcança-los as circunstâncias
mudam completamente e se torna necessário voltar ao começo. Esse realmente é o
intuito da indústria da beleza, é nos fazer estar sempre voltando ao começo,
pois somente dessa forma ela lucra mais.
Esse
processo de reinvenção a cada nova estação e de tentativa de responder aos
apelos estéticos da mídia provocam ansiedade, insegurança e frustração. Sentimentos
que fazem com que a mulher se sinta cada vez mais inadaptada e por consequência
mais predisposta as influências exteriores. É nesse sistema que atua indústria
da beleza, oferecendo a ela a possibilidade de sanar suas frustrações,
ansiedade e infelicidade através do consumo. Conforme é possível observar no
artigo “Livres ou escravos da beleza?” de Daniel machado em Destrave,
“Mas o
que está por trás deste consumo desenfreado para a conquista da beleza? Segundo
a psicóloga Samara Jorge, em seu artigo ‘Ditadura da beleza – uma visão
subjetiva’, atrás desta preocupação com a aparência pode estar escondida a fuga
da realidade, ‘com sentimentos de frustração, medo, angústias e inseguranças’.”
“Constantemente
recebo em meu consultório mulheres inseguras, com a autoestima bastante
comprometida, em geral, sozinhas, em busca de um parceiro. Não atender a esses
padrões, muitas vezes, compõe a lista de fatores que minam sua
segurança”. Informa Samara Jorge.
“Essa
insegurança está explícita numa pesquisa realizada por uma empresa de
cosméticos, a qual revela que apenas 2% das mulheres estão satisfeitas com o
seu corpo e trocariam 25% da inteligência que possuem por 25% a mais de beleza”.
Embora
pareça inofensiva, essa ditadura é extremamente maléfica, pois leva o sujeito a
se submeter a todos os tipos de riscos. Parcela significativa dos que se arriscam
na busca pelo padrão sofrem os efeitos de cirurgias mal sucedidas,
procedimentos estéticos traumáticos e lesivos, e até sérios problemas financeiros.
Sem contar dos que sofrem de bulimia, anorexia ou outros transtornos
alimentares, e que em alguns casos acabam em casos de morte. Além destes prejuízos,
também há o sofrimento daqueles que são vítimas de bullying por conta de suas características
físicas (que é muitos casos, são consideradas defeito).
Lamentavelmente
vivemos sob a cultura da aparência, como foi possível constatar hoje pela manhã
no programa Encontro, com Fátima Bernardes, onde ficou evidente que aqueles que
não estão de acordo com as exigências dos sistemas (padrão) estão mais sujeitos
a ficarem de fora do mercado de trabalho, terem suas credibilidades
questionadas ou mesmos terem dificuldade de encontrar um parceiro. (Veja em: O que é valorizado na hora da promoção no trabalho, homens que querem esconder osfios brancos).
É praticamente impossível
viver de forma a ignorar esses apelos e não ceder aos desejos de se enquadrar
nos estereótipos propagados. No entanto, é necessário que paremos de olhar em
volta e nos concentremos no que temos de melhor. Todos nós temos pontos fortes
e que nos são singulares. E são todas as diferenças, qualidades, virtudes,
defeitos que tornam únicos. Quando dizemos não ao impulso de nos adequarmos
estamos dizendo que nos respeitamos e não somos nós que estamos fora do padrão,
é o padrão que é inadequado a nós. Ao optarmos por nos aceitarmos ao invés de
ceder, estamos dizendo claramente a sociedade que nos respeitamos o suficiente pra
não nos deixarmos manipular e que de forma alguma vamos submeter o nosso corpo
ou mente a qualquer violação. Queremos ser respeitadas nas nossas
peculiaridades e não termos de nos enquadrar a nenhuma contorno, pois todo ser
humano é único e peculiar.
Socialite Jocelyn Wildenstein |
Ceder aos apelos da mídia é
fomentar a indústria que a financia. Por trás de cada propaganda comercial há
um maciço investimento de dinheiro em pesquisas que estudam as mais diversas
formas de provocar necessidades e desejos nos consumidores que eles realmente
não têm. E que, no entanto, se tornam necessidades primordiais quando
veiculadas na mídia de forma certa. Desta forma, somos induzidas a acreditar que
necessitamos de algo no qual definitivamente não precisamos. E nos não carecemos
mudar nada em nosso corpo pra que sejamos mais felizes.
Boa sorte com seu visual e
se ame acima de tudo.
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