Por Ana Eufrázio
O colunista
da reconhecidamente reacionária revista sulista “Veja” e especialista em
Educação (?), Claudio de Moura Castro participou de audiência pública na
Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE), na última terça-feira (22) no
Senado como debatedor. Na tentativa de defender o ponto de vista de que o
projeto do novo Plano Nacional da Educação (PNE) seria socialmente “irrelevante”,
o “especialista” resolveu construir sua argumentação inicialmente taxando a
proposta de “equivocada e inócua”. Insatisfeito com a aceitação do público aos
seus argumentos resolveu através do discurso hegemônico, costumeiramente veiculado
na publicação paulista, direcionar todo seu machismo e racismo ás nossas jovens
mulheres nordestinas. Do alto de sua especializada arrogância, sugeriu, em tom
irônico e debochado, “um bônus para as ‘caboclinhas’ de Pernambuco e do Ceará
que conseguirem se casar com os engenheiros estrangeiros, porque ai eles ficam
e aumenta o capital humano no Brasil, aumenta a nossa oferta de engenheiros”.
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Cláudio de Mauro Castro - Fonte: Abril em Educar para crescer |
Às
vezes ainda me surpreendo com a forma como nós mulheres, e principalmente as
nordestinas, somos futilmente atacadas. A fala do renomado “especialista” não é
só ofensiva a nós mulheres, como também insulta todo o povo nordestino. O
comportamento xenófobo, que a priori, imaginamos inerentes a indivíduos de notável
ignorância, também são alardeadas por “pseudos intelectuais” que promovem
despudoradamente ideologias retrógradas e recheadas de preconceitos. Assista ao vídeo Aqui.
Quando
se refere às mulheres nordestinas como “caboclinhas”, (e aqui o termo usado
foge a etimologia da palavra, que designa pessoa mestiça de branco com índio)
ele tenta nos desqualificar, já que a forma como foram pronunciadas as frases, em
claro tom de escárnio machista, remete a caracterização pejorativa da mulher
nordestina inculta e pobre. Além do racismo dirigido ao povo nordestino, ele
consegue se enredar ainda mais nesse engodo ao sugerir que o governo patrocine
e estimule a exploração sexual de nossas mulheres.
A
forma com a “propositura” foi apresentada demonstra o escárnio com o que o
“renomado” senhor trata o nosso povo e às leis do país, pois ignora que
discriminação em razão da etnia figura como crime de racismo.
O art. 20 da Lei n. 7.716/89 (Lei
dos Crimes de Preconceito de Raça ou de Cor) define o seguinte crime:
“Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor,
etnia, religião ou procedência nacional”.
A
visão propagada por este senhor reforça o estereótipo da mulher submissa e
predisposta a prostituição. Ideologia que o machismo reproduz de forma a
ampliar a opressão sobre as mulheres. O caráter racista, representado na expressão
“caboclinha”, reforça o paradigma da “mulher de cor” que vende o corpo ao
branco na busca de ascensão social. Esta corrente de pensamento serve bem ao
modelo de sociedade machista e elitista branca que tem na mulher pobre e preta
a representação clássica da mulher objeto, que o filho do patrão usa, repassa,
repudia e humilha.
A propositura
do “especialista” não foi só infeliz, foi digna de repúdio. Não podemos aceitar
que tais falas sejam propagadas impunemente. O senhor em questão, por se tratar
de pessoa pública, deveria ter um mínimo de discernimento ao realizar qualquer
declaração. O poder de sua voz tem alcance inestimável e força de uma verdade inquestionável.
Por estes motivos contamos e esperamos que ele venha a público se retratar. Não
que isso possa lhe livrar de ter de dar explicações à justiça. Pois exigimos
que o Ministério Público entre com ação penal contra o senhor por racismo. Também
esperamos que o Senado Federal tome a atitude de repudiar sua colocação e lhe imponha
alguma sanção.
Não,
senhor Cláudio, nós não queremos somente suas desculpas. Nós exigimos sua
retratação.
Não queremos
que o senhor diga que foi mal interpretado. Queremos que o senhor assuma o caráter
machista, proxeneta e racista da sua fala.
Nós
mulheres nordestinas exigimos respeito. Não aceitamos a pecha de meras prostitutas
disponíveis a exploração sexual pelo homem estrangeiro, como o senhor propõe.
Também
não somos parasitas sobreviventes à custa das esmolas do Governo Federal, que
na propositura agiria como rufião. Somos mulheres trabalhadoras e cidadãs
pagadoras de impostos.
Senhor
Cláudio, respeite a dignidade do homem nordestino, trabalhador do campo e que
com suas mãos auxilia na construção desse país.
Caro
senhor, respeite a mulher negra e pobre que é protagonista da sua própria vida
e luta pra romper com o ciclo vicioso de exploração, discriminação e racismo
propagados por pessoas como o senhor.
Senhor
Cláudio, respeite o povo caboclo que guarda no seu DNA uma lamentável história
de exploração, discriminação e massacre, mas que hoje é um dos braços fortes da
classe trabalhadora do nosso país.
E por
fim, senhor Cláudio, respeite as mulheres brasileiras. Pois não somos
mercadorias, e não estamos expostas a venda ao capital estrangeiro. Apesar de
pessoas como o senhor acreditarem que podem fazer conosco o mesmo que fazem com
as riquezas deste país, que dividem em lotes e entregam ao capital
internacional.
5 comentários:
ótimo texto!
Nordeste - agonia dos segregados. http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2013/10/28/noticiasjornalopiniao,3153980/nordeste-u2013-a-agonia-dos-segregados.shtml
Ridiculo, preconceituoso, sexista e xenófobo! Em suma: um ignorante equivocadamente batizado por guardar semelhanças físicas com o ser humano. Freud explica...certamente o educador deve ter problemas sexuais seríssimos e irreversíveis, algo que nem o mais azul dos placebos poderá resolver e nem os melhores cirurgiões plásticos e as mais avançadas técnicas de aumento de falo.
o video só tem 27 segundos, coloca o video inteiro para avaliar melhor, todo o contexto
vao arrumar uma trouxa de roupa pra lavar q é melhor!
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